Projeto Piloto de Leitura: Uma Nova Página na Escola Profissional Raul Dória é o artigo que hoje trazemos.
Vivemos numa era marcada por estímulos rápidos, onde os ecrãs competem com os livros pela atenção dos jovens. No meio desta realidade desafiante, surge uma resposta pedagógica ousada e humanista por parte da Escola Profissional Raul Dória, com a implementação do Projeto Piloto de Leitura, no âmbito da disciplina de Português, dirigido pelas professoras Liliana Branco e Sara Martinho. Este projeto nasceu com uma missão clara: combater os fracos hábitos de leitura nos alunos do ensino secundário profissional, especialmente nas turmas do 10.º ano, promovendo o gosto pela leitura como ferramenta de crescimento pessoal, intelectual e cívico.
Ao longo dos últimos anos, vários estudos e observações pedagógicas têm revelado uma tendência preocupante: os jovens leem cada vez menos. As estatísticas nacionais sobre literacia apontam para níveis de leitura pouco satisfatórios entre os adolescentes, algo que se reflete não só nas competências linguísticas, mas também na capacidade de interpretação, expressão escrita e pensamento crítico.
Face a esta realidade, a Escola Profissional Raul Dória não quis permanecer alheia. Como instituição que acredita na educação integral do aluno, decidiu agir, lançando um projeto inovador e adaptado à realidade dos seus estudantes — muitos deles oriundos de contextos onde a leitura não é hábito familiar ou social.
Inspiradas por práticas pedagógicas de sucesso, as professoras Liliana Branco e Sara Martinho decidiram introduzir 25 minutos semanais dedicados exclusivamente à leitura livre, durante as aulas de Português das turmas do 10.º ano.
Este tempo é reservado para os alunos lerem um livro à sua escolha, permitindo-lhes descobrir o prazer da leitura ao seu ritmo, sem imposições temáticas. A leitura não é avaliada, não há resumos obrigatórios nem testes de compreensão imediata — o objetivo é simples: estimular o gosto pela leitura, criar rotinas e abrir portas para o mundo dos livros.
Para a professora Sara Martinho, o impacto da leitura vai muito além do domínio da língua:
"O clube de leitura incentiva o hábito de ler, essencial para o desenvolvimento intelectual dos alunos. A leitura melhora a escrita, amplia o vocabulário e estimula o pensamento crítico, aproximando os alunos da literatura e tornando, assim, a leitura parte do quotidiano escolar."
Por sua vez, a professora Liliana Branco sublinha a urgência de agir:
“Perante a falta de hábitos de leitura cada vez mais notória nos nossos jovens, tornou-se necessária uma intervenção. Semanalmente, e como parte integrante da aula. Penso que este é um dever do professor de Português.”
Estas visões convergem na crença de que a leitura é um pilar essencial da educação, sendo o papel do professor também o de cultivar este hábito desde cedo, com persistência e empatia.
O sucesso do Projeto Piloto reside na sua simplicidade:
25 minutos por semana, num ambiente tranquilo e propício à leitura;
Liberdade de escolha: cada aluno lê o livro que deseja, dentro ou fora do currículo obrigatório;
Criação de rotina: ao repetir-se semanalmente, o momento de leitura torna-se parte integrante da vivência escolar;
Valorização do prazer de ler, e não da obrigação;
Continuidade em casa: muitos alunos levam os livros para casa e continuam a leitura por iniciativa própria.
Este último ponto é particularmente relevante. Ao contrário de projetos escolares que se esgotam no espaço da sala de aula, este promove uma mudança de comportamento. A leitura não é apenas um momento em aula, mas uma prática que transborda para o tempo livre, os transportes públicos, o fim de semana — criando, assim, leitores para a vida.
| Apesar de estar ainda numa fase inicial, o Projeto Piloto já apresenta sinais muito encorajadores. As professoras reportam:
| Aumento da concentração dos alunos durante a aula de leitura;
| Maior interesse por títulos variados, desde clássicos da literatura portuguesa a romances contemporâneos;
| Reações positivas dos alunos, que muitas vezes comentam os livros entre si fora do horário letivo;
| Melhoria visível na expressão escrita de alguns estudantes;
| Procura espontânea por mais livros na biblioteca escolar.
Este tipo de envolvimento indica que a semente foi lançada e começa a germinar, ainda que de forma discreta. Como em tudo na educação, os frutos colhem-se a médio e longo prazo, mas o entusiasmo é já um sinal de vitória.
Mais do que uma experiência isolada, este projeto está a ser documentado e avaliado com vista à sua expansão para outros níveis de ensino e, eventualmente, à criação de um Clube de Leitura formal dentro da escola. A ideia é envolver também os professores de outras disciplinas, criar pontes entre a leitura e a realidade profissional dos cursos oferecidos pela Escola Profissional Raul Dória.
Além disso, está prevista a colaboração com bibliotecas locais, autores e editores, permitindo que os alunos conheçam o universo da literatura em várias vertentes — da leitura à criação literária, da edição à crítica.
Num contexto como o da formação profissional, por vezes injustamente conotada com uma menor valorização das competências literárias, este projeto vem quebrar preconceitos. A Escola Profissional Raul Dória mostra, com este exemplo, que é possível conciliar formação técnica com cultura geral, leitura com prática, sensibilidade com competência.
Alunos que se preparam para ser profissionais em áreas técnicas também devem ser cidadãos críticos, informados e capazes de comunicar eficazmente. A leitura é uma ferramenta essencial para isso — e, por isso, é valorizada no currículo de forma ativa e estruturada.